Saturday, 7 September 2013

Magnificat




















Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, Quem tens lá no fundo?
É Esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma: será dia!

Fernando Pessoa


Magnificat

When will this inner night – the universe – end
And I – my soul – have my day?
When will I wake up from being awake?
I don’t know. The sun shines on high
And cannot be looked at.
The stars coldly blink
And cannot be counted.
The heart beats aloofly
And cannot be heard.
When will this drama without theater
– Or this theater without drama – end
So that I can go home?
Where? How? When?
O cat staring at me with eyes of life, Who lurks in your depths?
It’s Him! It’s him!
Like Joshua he’ll order the sun to stop, and I’ll wake up,
And it will be day.
Smile, my soul, in your slumber!
Smile, my soul: it will be day!

translated by Richard Zenith


(Picture: The water nymph, John Collier)

No comments:

Post a Comment